domingo, 23 de dezembro de 2007

Arenas de Europa, para renda brasileira

No primeiro post-debate, trago uma reportagem de quando eu era repórter da Revista Amanhã, periódico de economia, gestão e negócios editado no Rio Grande do Sul (www.amanha.com.br). Trata-se de uma abordagem sobre o planejamento dos principais clubes do sul do país que pensam projetos para a copa de 2014. Entram nessa conta, Inter, Grêmio, Figueirense, Atlético e Coritiba. O Tìtulo da matéria, como quase sempre, não fui eu que dei, mas meu editor: Uma formidável bola fora.
Eu não compartilho dessa visão pessimista que o título anuncia, mas também não estou no time dos otimistas. Para ler a matéria, basta acessar http://amanha.terra.com.br/edicoes/236/especial.asp e conferir o trabalho. Sobre as minhas percepções que ficaram na matéria:

1) Há falta de planejamento em todos os clubes. Essa ausência de comprometimento técnico na avaliação dos projetos para a copa, ou apenas para melhorar a infra-estrutura dos estádios atuais, pode se refletir no resultado final. O Atlético Paranaense parece estar um pouco a frente - não apenas no estádio, é claro, mas também no planejamento.

2) Se os diretores da dupla gre-nal tivessem ensaiado, não teriam me fornecido respostas tão semelhantes sobre seus projetos para 2014. Ambos planejam vincular a sustentabilidade de seus estádios a centros de eventos e convenções, com o argumento de que "há espaço para essa atividade na capital gaúcha". Espaço, parece haver, definitivamente. Para dois projetos? Não sei.

3) Os especialistas e analistas são essencialmente pessimistas, como a matéria aponta. E isso traduz mais que frustração com antigos projetos que não foram tirados do papel em outras épocas. O problema mesmo é o ranço político. Enquanto na Europa, predominam departamentos e diretores com formação e capacitação técnica inquestionáveis, no Brasil, os dirigentes ainda são escolha essencialmente política. E meus entrevistados viram alguns discursos bem parecidos com os de agora em outros momentos.

4) A política de sócios de Inter e Grêmio, com mensalidades populares, que está se espalhando pelo país, é uma ótima. Todos os entrevistados elogiaram a iniciativa, mas ressaltaram que é preciso estar atento as peculiaridades das torcidas de cada estado, especialmente em relação a hábitos, preços, etc Em tempo: Se avaliarmos o percentual de torcedores de clubes paulistas no Paraná e em Santa Catarina, percebemos que ainda há um vasto campo para se explorar do ponto de vista mercadológico por Paraná, Atlético-PR e Coxa.

5) CUIDADO com as parcerias. Todos os especialistas repetiram isso nas entrevistas que fiz para a reportagem. A avaliação deles é que é muito difícil que esses parceiros internacionais se interessem APENAS pela exploração comercial do patrimônio, que pode demorar anos para render frutos. É aí que entram ISLs e MSIs da vida. Por isso, todo cuidado é pouco. Mesmo assim, trabalhar apenas com finanças próprias, como o Inter defende, também tem seus riscos. É que no Brasil, muito do que os clubes arrecadam ainda está vinculado ao desempenho do time em campo. O time vai mal? As vendas de produtos e ingressos também. Tem gente que já mudou isso.

6) No último mês no Brasil, já devem ter surgido pelo menos cinco notícias como essa: "A arena do clube (X) será uma das maiores e mais modernas da América Latina". É bom se precaver. Essa estrutura de serviços que será montada no entorno, ou dentro, será usada? Se vai, como será? Existe cultura de consumo para os produtos? São perguntas básicas, e até imbecis, podem pensar profissionais da área. O problema é que, muitas vezes, na pressa de agradar e angariar sorrisos e votos, a megalomania passa a linha de chegada sem passar pelo óbvio.

7) Muito do que vai ser feito até a Copa, passa pelo poder público. É o caso até de alguns novos estádios. É bom ficar de olho no que e como serão desenvolvidos os projetos até lá. O dinheiro é meu, seu, de todo mundo.

8) O sul larga na frente de outras regiões para sediar a copa de 2014. Basta os dirigentes e "pensadores" do nosso futebol desviarem um pouco de brigas e discussões políticas e focar mais no negócio Copa. Não sou a favor da realização dela no Brasil, mas já que vai ocorrer mesmo, que seja de forma profissional, tirando o melhor proveito possível.

3 comentários:

Andreas disse...

2) Se os diretores da dupla gre-nal tivessem ensaiado, não teriam me fornecido respostas tão semelhantes sobre seus projetos para 2014. Ambos planejam vincular a sustentabilidade de seus estádios a centros de eventos e convenções, com o argumento de que "há espaço para essa atividade na capital gaúcha". Espaço, parece haver, definitivamente. Para dois projetos? Não sei.

==> DE FATO, é de se pensar se Porto Alegre tem demanda suficiente para sustentar dois complexos esportivos tão ousados como os projetados por Grêmio e Inter. E eu sinceramente acho que os dirigentes da dupla têm plena consciência de que a resposta é "NÃO, simplesmente não há espaço para DUAS arenas nesses moldes".

E daí?

Bom, e daí que isso explica porque existe essa CORRIDA NÃO DECLARADA entre Grêmio e Inter para ver quem vai erguer o seu complexo esportivo primeiro. Isso fica claro no fato de que ambos os clubes estão retendo investimentos no futebol e direcionando tempo e dinheiro para a construção de suas respectivas arenas.

Baita post, Tércio.

Andreas disse...

Só complementando: vamos imaginar que o complexo Beira Rio ficou pronto antes do complexo do Grêmio e teve um estrondoso sucesso. Quais são as possibilidades?

1. Os investidores encaram o sucesso do Beira Rio como um sinal de que, a partir de agora, a demanda por esse tipo de espaço de esportes/eventos na capital está plenamente atendida. Ou seja: desistem de investir no Olímpico, pois reconhecem que perderam a corrida.

2. Os investidores encaram o sucesso do Beira Rio como um sinal de que a Arena do Grêmio vai ter ainda mais sucesso - afinal, segundo as pesquisas, a torcida gremista é maior e pode gerar mais renda com bilheteria.

Tudo é possível.

luís felipe disse...

O que está bem claro para mim é a corrida do ouro - ou melhor, da verba pública - que alguns dirigentes de federações e clubes querem instaurar. No Grêmio, a questão da verba pública é tratada de forma quase secreta, mas todos sabem que a CBF vai preferir apoiar para a Copa um projeto totalmente novo, ao invés de uma reformulação. Por que com a obra pública, podem ganhar dinheiro a CBF e o clube.

Não há e não haverá condições da iniciativa privada abrigar projetos megalomaníacos, como a construção de super arenas multiuso. Primeiro que não rola tanta grana assim; segundo que talvez os incentivos fiscais não sejam tão altos; terceiro que o exemplo do PAN demonstrou que os grandes organizadores de eventos esportivos não são competentes nas suas funções, e vão precisar da Viúva para completar os projetos.

A Copa de 2014 tem tudo para dar errado. Os principais prejudicados nessa história serão os clubes e o governo, que terão suas relações demasiado estremecidas pelo modo de aplicar as verbas, ou pela quantia de verbas aplicadas. As dívidas dos clubes - que vão usufruir do espaço dos estádios - com a União tende a se tornar ainda maior, e ela já está insustentável.

Sobre a comparação entre os projetos de Grêmio e Internacional, no Repórter Esportivo eu escrevi que o projeto gremista deu um grande salto, ultrapassando o colorado em diversos aspectos. Primeiro, sejamos honestos: NÃO HÁ um projeto de remodelação do Beira-Rio. Existem gráficos; existem apresentações de como vai ficar; existem idéias. O dinheiro não existe, não se sabe qual é o cronograma de trabalho, não foram definidas as prioridades...em suma, nada está acontecendo.

A única forma do Beira-Rio conseguir colocar a Copa dentro de si é tendo um projeto mais adiantado que a nova Arena do Grêmio - e a visita dos inspetores da FIFA ano passado demonstrou isso. Tudo conspira a favor do Grêmio: desde a megalomania, que vai de acordo com os anseios de Ricardo Teixeira, até a administração terceirizada do projeto - que cria facilidades legais não conferidas ao clube, entidade não-lucrativa. Se o Inter, que já está contra o vento, atrasar o seu projeto, adeus Tia Chica.